domingo, 22 de março de 2009





La Vie Bohème

Eu sei...não apareço há séculos! Às vezes até esqueço que tenho um blog...se é que isso pode ser chamado de blog.
O fato é que hoje está um dia cinza,preguiçoso e quase-frio...o típico início de outono. Não gosto,mas pelo menos esses dias me impulsionam a ler,a escrever em pseudo-blogs e a refletir sobre questões existencialistas,sociais,políticas e amorosas.

Mas hoje,não vou falar sobre nada disso...vou falar sobre os Goliardos.
Nos últimos meses,tenho levado uma vida um tanto quanto boêmia...dia após dia, mas ontem eu não saí. Fiquei em casa,o que me levou a pensar sobre os boêmios do mundo afora...e lembrei de um seminário que apresentei no primeiro ano da faculdade, sobre o surgimento das universidades na idade média. Por coincidência,fiquei com a parte dos Goliardos e claro,adorei...afinal,alguém antecedeu Baudelaire,Vinícius, Sérgio Buarque e tantos outros...
Eles eram clérigos do século XIII, diziam-se seguidores de Golias e desamparados pela igreja,passaram a vagar pela Europa,reunindo-se nas tavernas,fazendo poesias marginais satirizando a igreja. Hoje podemos dizer que é um tipo de 'literatura marginal',algo totalmente fora dos padrões para a época.

Falavam muito sobre o amor como fonte de prazer,e não o amor burguês e moralista. Compuseram 'Carmina Burana',exaltaram o vinho,o jogo,o prazer...criticaram a tirania ideológica,a igreja...e tudo isso na Idade Média.
Para quem quiser saber mais sobre esses intelectuais boêmios,indico "Os Intelectuais na Idade Média" do Le Goff.
Algo escrito por eles,impossível não ser anacrônica e associar essa literatura aos dias de hoje:

"Sou coisa ligeira
Como a folha que é joguete da tempestade.
...
Como o batel vogando sem piloto,
Como uma ave errante pelos caminhos do ar,
Não estou amarrado nem por âncora, nem por cordas.
...
A beleza das raparigas feriu o meu peito,
As que não posso tocar, possuo-as com o coração.
...
Censuram-me, depois, pelo jogo. Mas assim que o jogo
Me deixa nu, com o corpo frio, o meu espírito aquece.
É então que a minha musa compõe as suas melhores canções.
...
Em terceiro lugar, falemos da taberna.
...
Quero morrer na taberna
Onde os vinhos estiverem perto da boca do moribundo,
Depois os corpos dos anjos descerão cantando:
''Que Deus seja clemente para com este bom apreciador''
...
Mais ávido de volúpia que da salvação eterna,
Com a alma morta, só a carne me preocupa.
...
Como é duro domar a natureza!
E, à vista das belas, permanecer puro de espírito.
Os jovens não podem seguir uma tão dura lei
Nem esquecer o corpo disponível."



Saravá,meus queridos! E até o próximo século :)