sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Apenas o Fim.



Universitários do meu Brasil (ou não...),se vocês ainda não assistiram 'Apenas o Fim',não sabem
o que estão perdendo...de verdade,corram para ver!

Principalmente para a nossa geração,é difícil não se identificar com esse longa-metragem que foi produzido pelos estudantes de cinema e artes cênicas da PUC-Rio. Acredito que é justamente isso que dá essa 'magia' ao filme, afinal, ninguém melhor para retratar uma geração do que a própria geração.
Escrito e dirigido pelo estudante Matheus Souza e filmado na própria universidade, Apenas o Fim conta a história do típico casalzinho universitário puquiano, formado por um 'nerd' e uma 'pós-moderna' (se é que posso assim rotulá-los). A trama se desenrola quando ela simplesmente e do nada comunica ao namorado que está indo embora e que eles tem apenas uma hora para se despedir...Os dois começam então um diálogo cheio de lembranças de fatos cotidianos do relacionamento.
Esses diálogos e lembranças,é claro,estão repletos de peculiaridades dessa nossa geração...coisas meio 'cultura pop' e outros elementos que remetem à nossa infância...Cavaleiros do Zodíaco,He Man,vovó Mafalda,Mc Donalds e Backstreet Boys...

Sabe quando você assiste a um filme e tem a impressão que ninguém no mundo vai gostar mais
dele do que você?Foi isso que eu senti com 'Apenas o Fim'. Juro,rolou uma super identificação...

E pra quem espera um roteiro hollywoodiano,pode esquecer...A impressão que eu tenho é que esse filme não é do tipo que vai agradar a todos os tipos de público,mas a um público bem específico. Acredito que seja necessário uma certa sensibilidade para entender o filme...porque embora não pareça,as questões 'existencialistas' da personagem que resolve ir embora e romper com o relacionamento,na minha opinião é claro,são bastante comuns em certos momentos da vida universitária.
Ah claro,fora o Gregório Duvivier que interpreta muitíssimo bem,com um toque de sarcasmo que eu adoro!
Enfim,enfim...Matheus Souza e a sua equipe puquiana (só podia ser...hahaha) estão de parabéns!

O cinema brasileiro se mostra cada vez mais interessante...por isso,assistam!
E pra quem ficou curioso,um dos trailers:

sexta-feira, 12 de junho de 2009

...mas eu saquei que sou uma goiabeira.


''o meu compromisso
com a minha natureza
de não ser igual
nasci no meio
de milhares de pinheiros
mas eu saquei que sou uma goiabeira
na geometria desse mundo
me disseram que eu sou quadrado
mas eu sou triangular
ou, quem sabe, circular''
(Tijuquera)

segunda-feira, 11 de maio de 2009

transição,complexidade,subjetividade e muitas dúvidas!




"Eu não me encaixo em nenhum desses tipos de pessoas. Não sou corajosa o suficiente para sempre seguir meu coração e nem fria o suficiente para poder ser tão racional. O que eu vejo?Eu não me permito ver as coisas como elas realmente são...simples. Tenho o costume de usar lentes caleidoscópicas que me levam a uma verdade totalmente subjetiva. Eu me entendo dentro de mim, mas eu não me entendo dentro do mundo. Eu basicamente vivo nessa luta interna entre a covardia do meu coração, a falta de firmeza de meus pensamentos e minhas lentes caleidoscópicas. E vivo na luta externa com o mundo, pra tentar deixar de ser tão complexa e simplificar as coisas. Tantas lutas com um único objetivo: buscar a felicidade minha e de quem me cerca."
Clarice Lispector


Tentando entender a minha própria complexidade,pra depois tentar entender a complexidade alheia...mas a minha complexidade anda tão complexa,que talvez a complexidade alheia seja mais fácil de se compreender...

Cada dia mais existencialista ou niilista...?Nietzsche talvez dissesse que eu me encontro num estágio intermediário: entre a fase do camelo e a fase do leão.

Tentando também desvendar os imprevistos da existência,mesmo sabendo que eu nunca vou desvendar...Seria a minha realidade complexa e subjetiva,uma realidade ilusória?

Hoje eu estava lendo um outro blog,e vi um post que através de um fato cotidiano conseguiu traduzir tão bem o que eu vinha pensando há long long time...foi o seguinte: a dona do blog estava brincando com um daqueles cubos mágicos...aqueles quebra-cabeças coloridos...e aí ela traçou como objetivo concluir uma face do cubo,e escolheu a cor vemelha. Ela passou um tempão tentando concluir o lado vermelho,ficou obcecada...mas não conseguiu. Aí ela desistiu e jogou o cubo de lado...quando o cubo caiu e ela olhou,ela tinha concluído o lado amarelo...mas estava tão obcecada pelo vermelho que tinha passado um tempão e ela mal notou o êxito no amarelo. Sacou? Acho que eu venho fazendo isso há teeeempos...me fixei muito no vermelho...agora preciso descobrir como andam as outras cores! Éééé...eu tô um saco hoje!

Esses períodos de transição sempre me deixam assim...me perdoem a minha crise número 3.492,mas eu precisava ''passar pro papel''...

um beeeeijoooooooo (se é que alguém entra nesse blog,né?)

domingo, 10 de maio de 2009

Le Petit Prince



"Eis que um dia apareceu uma raposa:
- Bom dia - disse a raposa.
- Bom dia - respondeu educadamente o pequeno príncipe, que, olhando ao redor, nada viu.
- Eu estou aqui - disse a voz, - debaixo da macieira...
- Quem és tu? - perguntou o principezinho. - Tu és bem bonita...
- Sou uma raposa- ela respondeu.
- Vem brincar comigo. - ele propôs. - Eu estou tão triste.
- Eu não posso brincar contigo. - Disse a raposa. - Não me cativaram ainda.
- Ah! Desculpa. - disse o principezinho.
Mas, após refletir, acrescentou:
- Que quer dizer isso..."cativar"?
- É algo quase sempre esquecido. - disse a raposa. - Significa "criar laços"...
- "Criar laços"?
- Exatamente. - disse a raposa - Tu não és ainda para mim senão um garoto igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu também não tens necessidade de mim. Mas se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...
- Começo a compreender. – disse o pequeno príncipe.
A raposa retomou seu raciocínio:
- Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Tudo é sempre tão igual. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra. Os teus me chamarão para fora da toca, como se fosse musica. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? O trigo pra mim não vale nada, eu não como pão! Os campos de trigo não me lembram coisa alguma, e isso é triste! Mas tu tens cabelos dourados. Então será maravilhoso quando tiveres me cativado. O trigo, que é dourado, fará com que eu me lembre de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo.
A raposa calou-se e observou por muito tempo o príncipe:
- Por favor...cativa-me! – ela pediu.
- Não tenho tempo! – disse o príncipe - Ainda tenho muitas coisas a conhecer!
- a gente só conhece bem as coisas que cativou. – disse a raposa. – os homens não têm tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo já pronto nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me.
- Que é preciso fazer? – perguntou o pequeno príncipe.
- Ah...é preciso ser paciente. – respondeu a raposa. – tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim. Eu te olharei de canto de olho, e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentará mais perto...
Assim, com o passar dos dias, o pequeno príncipe cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:
- Ah, eu vou chorar.
- a culpa é tua. – disse o principezinho. – eu não queria te fazer mal; mas tu que quiseste que eu te cativasse.
- Quis. – disse a raposa.
- Mas tu vais chorar! – disse ele.
- Vou. – disse ela.
- Então, não terás ganhado nada!
- Terei, sim – disse a raposa – por causa da cor do trigo.
E depois, acrescentou:
- Te dou de presente o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos. Os homens esqueceram essa verdade, mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Agora, eu sou responsável por ti, e tu és responsável por mim."


Dispensa ou não dispensa explicação...?
Hoje,não vou escrever mais do que isso:deixo o Saint-Exupéry falar por mim...

domingo, 22 de março de 2009





La Vie Bohème

Eu sei...não apareço há séculos! Às vezes até esqueço que tenho um blog...se é que isso pode ser chamado de blog.
O fato é que hoje está um dia cinza,preguiçoso e quase-frio...o típico início de outono. Não gosto,mas pelo menos esses dias me impulsionam a ler,a escrever em pseudo-blogs e a refletir sobre questões existencialistas,sociais,políticas e amorosas.

Mas hoje,não vou falar sobre nada disso...vou falar sobre os Goliardos.
Nos últimos meses,tenho levado uma vida um tanto quanto boêmia...dia após dia, mas ontem eu não saí. Fiquei em casa,o que me levou a pensar sobre os boêmios do mundo afora...e lembrei de um seminário que apresentei no primeiro ano da faculdade, sobre o surgimento das universidades na idade média. Por coincidência,fiquei com a parte dos Goliardos e claro,adorei...afinal,alguém antecedeu Baudelaire,Vinícius, Sérgio Buarque e tantos outros...
Eles eram clérigos do século XIII, diziam-se seguidores de Golias e desamparados pela igreja,passaram a vagar pela Europa,reunindo-se nas tavernas,fazendo poesias marginais satirizando a igreja. Hoje podemos dizer que é um tipo de 'literatura marginal',algo totalmente fora dos padrões para a época.

Falavam muito sobre o amor como fonte de prazer,e não o amor burguês e moralista. Compuseram 'Carmina Burana',exaltaram o vinho,o jogo,o prazer...criticaram a tirania ideológica,a igreja...e tudo isso na Idade Média.
Para quem quiser saber mais sobre esses intelectuais boêmios,indico "Os Intelectuais na Idade Média" do Le Goff.
Algo escrito por eles,impossível não ser anacrônica e associar essa literatura aos dias de hoje:

"Sou coisa ligeira
Como a folha que é joguete da tempestade.
...
Como o batel vogando sem piloto,
Como uma ave errante pelos caminhos do ar,
Não estou amarrado nem por âncora, nem por cordas.
...
A beleza das raparigas feriu o meu peito,
As que não posso tocar, possuo-as com o coração.
...
Censuram-me, depois, pelo jogo. Mas assim que o jogo
Me deixa nu, com o corpo frio, o meu espírito aquece.
É então que a minha musa compõe as suas melhores canções.
...
Em terceiro lugar, falemos da taberna.
...
Quero morrer na taberna
Onde os vinhos estiverem perto da boca do moribundo,
Depois os corpos dos anjos descerão cantando:
''Que Deus seja clemente para com este bom apreciador''
...
Mais ávido de volúpia que da salvação eterna,
Com a alma morta, só a carne me preocupa.
...
Como é duro domar a natureza!
E, à vista das belas, permanecer puro de espírito.
Os jovens não podem seguir uma tão dura lei
Nem esquecer o corpo disponível."



Saravá,meus queridos! E até o próximo século :)