domingo, 10 de maio de 2009

Le Petit Prince



"Eis que um dia apareceu uma raposa:
- Bom dia - disse a raposa.
- Bom dia - respondeu educadamente o pequeno príncipe, que, olhando ao redor, nada viu.
- Eu estou aqui - disse a voz, - debaixo da macieira...
- Quem és tu? - perguntou o principezinho. - Tu és bem bonita...
- Sou uma raposa- ela respondeu.
- Vem brincar comigo. - ele propôs. - Eu estou tão triste.
- Eu não posso brincar contigo. - Disse a raposa. - Não me cativaram ainda.
- Ah! Desculpa. - disse o principezinho.
Mas, após refletir, acrescentou:
- Que quer dizer isso..."cativar"?
- É algo quase sempre esquecido. - disse a raposa. - Significa "criar laços"...
- "Criar laços"?
- Exatamente. - disse a raposa - Tu não és ainda para mim senão um garoto igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu também não tens necessidade de mim. Mas se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...
- Começo a compreender. – disse o pequeno príncipe.
A raposa retomou seu raciocínio:
- Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Tudo é sempre tão igual. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra. Os teus me chamarão para fora da toca, como se fosse musica. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? O trigo pra mim não vale nada, eu não como pão! Os campos de trigo não me lembram coisa alguma, e isso é triste! Mas tu tens cabelos dourados. Então será maravilhoso quando tiveres me cativado. O trigo, que é dourado, fará com que eu me lembre de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo.
A raposa calou-se e observou por muito tempo o príncipe:
- Por favor...cativa-me! – ela pediu.
- Não tenho tempo! – disse o príncipe - Ainda tenho muitas coisas a conhecer!
- a gente só conhece bem as coisas que cativou. – disse a raposa. – os homens não têm tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo já pronto nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me.
- Que é preciso fazer? – perguntou o pequeno príncipe.
- Ah...é preciso ser paciente. – respondeu a raposa. – tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim. Eu te olharei de canto de olho, e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentará mais perto...
Assim, com o passar dos dias, o pequeno príncipe cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:
- Ah, eu vou chorar.
- a culpa é tua. – disse o principezinho. – eu não queria te fazer mal; mas tu que quiseste que eu te cativasse.
- Quis. – disse a raposa.
- Mas tu vais chorar! – disse ele.
- Vou. – disse ela.
- Então, não terás ganhado nada!
- Terei, sim – disse a raposa – por causa da cor do trigo.
E depois, acrescentou:
- Te dou de presente o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos. Os homens esqueceram essa verdade, mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Agora, eu sou responsável por ti, e tu és responsável por mim."


Dispensa ou não dispensa explicação...?
Hoje,não vou escrever mais do que isso:deixo o Saint-Exupéry falar por mim...

Um comentário:

Bruno Costa disse...

A vida social de hoje é ter, e ter é dinheiro. Escrevi sobre encontros também. Se der passa lá. Parabéns pelo texto.

Bruno Costa