
Estava agorinha mesmo ao telefone com um grande amigo da faculdade...o típico estudante de História: barbudo, de óculos, intelectual e altamente filosófico. Eis que ele me fez uma pergunta que me deixou bastante irritada,pois a escuto desde meu primeiro dia na faculdade:
Pra quem não está entendendo nada,vamos lá...explicarei: quem é da área sabe que estudantes de História,bastante semelhantes,inclusive com os de Ciências Sociais e Filosofia, sofrem de uma doença chamada ESTEREÓTIPO. Sim. Pra mim,isso é uma doença,e das graves.
Eu resolvi fazer História na quinta série,aos 11 anos. Sempre me interessou,sempre quis,sempre gostei. Desde criança sempre fui muito chata (pré-requisito para o curso de História),não costumava me enturmar com as outras crianças e estava sempre com um livrinho embaixo do braço. Sempre tive mania de questionar,o que normalmente costumava irritar muita gente,e agradar algumas. Por isso,eu tinha certeza que 'me encontraria' no curso de História...que todos seriam como eu.
Então,quando chegou o momento,prestei vestibular e entrei em uma ótima faculdade,no curso de História...e foi aí que começou a crise.
Apesar de ser uma pessoa que sempre teve interesse por literatura,arte e cultura em geral, também sempre gostei muito de baladas,micaretas,fanfarronices e todas essas coisas consideradas inconcebíveis pela elite intelectual do curso de História. Digamos também,que sou um tanto 'mulherzinha' e SIM,sou vaidosa e gosto de me arrumar...sem contar que entrei na faculdade direto do colégio com meus recém-completados 18 aninhos...
O fato é que já no primeiro dia, para a minha grande decepção de caloura sedenta por festas e comemorações,constatei que as pessoas do meu curso não eram muito adeptas desse tipo de coisa...e muito pelo contrário.
Agora,imaginem só a cena: primeiro dia de aula,curso de História...Mariana entrando na sala de aula com uma calça jeans cheia de strass,blusa com um toque de paetês e salto altíssimo fazendo aquele 'toc toc toc'. (gente..dá um desconto..eu tinha 17 anos e era à noite...o strass mal aparecia!)
É,todo mundi olhou. E aí, fui comunicada que como forma de protesto à reitoria repressora não haveria comememoração,pois não havia o que comemorar.
É,eu quis morrer...
E desde esse dia,virei atração de circo. Tá,sou exagerada. Mas acreditem...escutei muitos absurdos,como : 'você fez chapinha?o que você tá fazendo nesse curso?' ou
'você vai pra Micareta hoje? porque você não vai fazer Direito ou ADM?' ou 'como alguém que gosta de ler pode gostar de chiclete com banana?' ou então os clássicos ' Você faz História? Mentira!' e 'Porque VOCÊ faz História?'.
Afinal,não sou nenhuma hippie/bicho-grilo/trotskista/típica estudante de História...e por isso,até hoje algumas pessoas me olham (muito) feio, e têm certeza de que eu sou uma porta,analfabeta,patricinha,fútil... E o pior,no início entrei numa puta crise existencial e quase larguei o curso de tanto que eu escutei esse tipo de coisa...E sei que tudo isso pode parecer superficial,mas essas coisas meio que mexem com a cabeça da gente...
Fico me perguntando,quando foi que se instituiu esse estereótipo e esse preconceito no meu curso...
Conheço alguém que passou pelo mesmo,e largou o curso. Fico chateada com isso,porque eu não arredei o pé...independente dos meus gostos,ou da minha aparência,sou tão historiadora quanto eles ,e hoje tenho mais do que certeza de que é isso que eu quero pra mim,é isso que eu amo e fico feliz de ver que não deixei essas besteiras me afetarem...
Isso foi meio que um desabafo,mas espero que sirva pra alguém,um dia,quem sabe...e que as pessoas entendam que capacidade intelectual não tem nada a ver com vaidade ou fanfarronices...hahaha :)
Uma boa noite para todos!
"...não me venha com essas história de atraiçoamos-todos-os-nossos-ideais, nunca tive porra de ideal nenhum, só queria era salvar a minha, veja só que coisa mais individualista elitista, capitalista, só queria ser feliz, cara."
( Caio F. - Os Sobreviventes)
- e só pra descontrair,um vídeo que achei engraçadíssimo: 'Cotidiano de um estudante'